sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Diário do Venvanse: antecedentes

Eu estava ansioso pela chegada do dia 12 de fevereiro de 2021, data da primeira consulta com a psiquiatra. Às 15 horas teria a possibilidade de uma avaliação profissional, capaz de eliminar a minha dúvida em relação à existência, ou não, em características dos meus comportamentos e histórico de vida, do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, o acrônimo famoso e polêmico do TDAH. Um tema da saúde mental que consegue dividir opiniões de psicólogos, psiquiatras, pedagogos, professores e, até mesmo, de leigos. Todos circulando nma lógica de oposições absolutas, entre o sim e o não, da existência do, digamos, desarranjo comportamental. Discussões que seguem o mesmo meio termo que contamina o falso diálogo sobre política e economia na atualidade.

Em um texto de 2017, eu revelava o meu encontro recente com conceitos de transtornos, identificados sob diferentes rótulos há algum tempo. Mas que mereceram atenção mais recente, a partir da década de 1990.  Registrei, na época, uma espécie de brincadeira sobre a minha convivência com a percepção de que, até então, eu era -- ou sou -- do signo de Gêmeos. E que descobria novas definições para os meus comportamentos. 

Entendi que as características do signo talvez fossem um problema. Um transtorno. A consciência sobre o tema ganhava forma por sinalizar que muito além das brincadeiras sobre características pessoais existiam prejuízos, que não eram encarados assim.

O fato é que fui apresentado ao TDAH há poucos anos. Desde então busco respostas para as dúvidas de quem, então com 61 anos, se percebia como um desajustado. Ou um fracassado, imaginando que é possível usar a palavra sem uma conotação negativa. É fato que fracassei na viabilização de inúmeros, dezenas, de projetos. 

Há, no jeito de quem tem o transtorno, uma incapacidade de realização de iniciativas. O que tem nome de disfunção executiva. Não dava mais para brincar com o excesso de empregos formais e informais, a instabilidade profissional, as atividades não terminadas. Histórico que resultou na instabilidade de renda.

Na verdade, os processos incluíram a desconstrução pessoal do mito do "eu geminiano'' como um ser exótico, inteligente, inquieto, criativo. Eu sempre gostei da ideia de ser essa pessoa cheia de ideias. Um diferente. Um estranho no ninho, no final das contas. Mas aí, um dia, você começa a perceber que caiu em armadilhas do sistema. Chega o momento em que entendemos, também, que ser "workaholic" é seu outro lado do mesmo problema. Um outro tipo de doença, uma outra obsessão, que serve de desculpa para você ser um personalidade insociável, entre outras coisas. 

Retornando ao dia da consulta com a psiquiatra, eu, em casa, estava ansioso para a conversa por teleatendimento. Com o desejo sincero de encontrar alguém com isenção suficiente para avaliar os comportamentos e propor um diagnóstico sincero e profissional. 

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