Carlos Plácido Teixeira
Editor-responsável - Radar do Futuro
Primeira razão para ser um pessimista em relação ao futuro: A desigualdade no mundo está crescendo. E vai continuar no mesmo ritmo. Segundo um documento divulgado pela ONG britânica Oxfam, em janeiro, durante o Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, na Suíça, em 2016, as 37 milhões de pessoas que compõem o 1% mais rico da população mundial terão mais dinheiro do que os outros 99% juntos. Ou seja, os quase 7 bilhões restantes. O estudo é baseado no relatório anual sobre a riqueza mundial que o banco Credit Suisse divulga anualmente desde 2010.
Mesmo no grupo dos 99%, há uma significativa desigualdade: quase toda a riqueza está nas mãos dos 20% mais ricos, enquanto as outras pessoas dividem 5,5% do patrimônio. A Oxfam extrapolou os dados para o futuro e indicou que, em 2016, o 1% mais rico terá mais de 50% dos bens e patrimônios existentes no mundo.
Winnie Byanyima, diretora-executiva da Oxfam e co-presidente do Fórum Econômico Mundial, acredita que "tanto nos países ricos quanto nos pobres, essa desigualdade alimenta o conflito, corroendo as democracias e prejudicando o próprio crescimento".
A diretora da Oxfam lembra que há algum tempo os que se preocupavam com a desigualdade eram acusados de ter "inveja". A preocupação é compartilhada por personalidades como o papa Francisco, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e a diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde. Em 2014, eles manifestaram algum tipo de inquietação com a desigualdade social. "O crescente consenso: se não controlada, a desigualdade econômica vai fazer regredir a luta contra a pobreza e ameaçará a estabilidade global", afirma Winnie Byanyima.
A Oxfam lembra que as companhias mais ricas do mundo usam seu dinheiro, entre outras coisas, para influenciar os governos por meio de , favorecendo seus setores. No caso particular dos Estados Unidos, que concentra junto com a Europa a maior parte dos integrantes do 1% mais rico e a miséria vem crescendo assustadoramente, o é particularmente rentável. Representantes de interesses demonstram enorme influência para mexer no orçamento e nos impostos do país, destinando a poucos os recursos que, como ressalta a diretora da Oxfam, "deveriam ser direcionados em benefícios de toda a população".
A confirmação de todo o poder dos mais ricos foi dada durante a crise de 2008. Provocada pelo sistema financeiro, a recessão não gerou qualquer punição para os bancos que especularam com títulos de hipótecas no mercado norte-americano. Na verdade, o sistema produtivo global deu uma demonstração inequívoca de que sua capacidade de impor interesses, dissociados dos problemas globais, não tende a ser alterada no curto prazo.
O horizonte de curto prazo mostra, genericamente, um cenário preocupante em relação à estrutura do sistema produtivo. Em processo de transição rumo a novos modelos de gestão, a indústria tradicional vai caminhar para a adoção intensa de tecnologias em produção e processos de gestão. Os outros segmentos vão acompanhar, investindo em inovações que, no final das contas, servirão para confirmar a tese do aumento da concentração de poder econômico.
Reforçando a projeção pessimista, um dos documentos entregues às lideranças presentes em Davos também revela que a Quarta Revolução Industrial, combinada com mudanças sócio-econômicas e demográficas, vai transformar os mercados de trabalho nos próximos anos e deixará um rastro de 7,1 milhões de empregos perdidos nas principais economias desenvolvidas e emergentes. Dois milhões e cem mil serão contratados, gerando um déficit total de 5 milhões de empregos eliminados.
Foi o terceiro ano consecutivo em que o tema do emprego foi colocado como prioritário nas discussões do Fórum Econômico Mundial. No relatório de 2015, a entidade reconhecia que as transformações no mercado de trabalho, associadas ao progresso tecnológico, estão acontecendo de uma forma mais rápida e dramática do que os cenários já vistos anteriormente.
DEZ RAZÕES PARA SER PESSIMISTA QUANTO AO FUTURO
- Aumento da concentração de renda
- Concentração do poder econômico em poucas empresas globais
- Enfraquecimento das economias regionais
- Desemprego crescente, afetando especialmente os jovens
- Conservadorismo político em alta
- Expansão dos movimentos radicais
- Ausência de lideranças políticas e sociais com credibilidade
- Enfraquecimento da democracia representativa
- Aumento da concorrência geo-política
- Crise climática
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