Saudades de Paul

Estamos de "saco cheio" da sociedade do consumo? Vamos conseguir mudar? Não haverá resposta definitiva no curto prazo sobre os limites das certezas. Algumas iniciativas parecem dizer que sim. Mas as dúvidas são muitas. Enquanto na praça Floriano Peixoto, na região dos hospitais de Belo Horizonte, na tarde de sábado, 11 de maio, um grupo de algumas dezenas de pessoas abria mão de parte de seus pertences, a favor de uma causa menos impregnada do consumismo, na região Sul da capital mineira, no bairro de Lourdes, uma outra imagem chamava a atenção neste mesmo dia ensolarado de outono: a quantidade de carros de luxo, incluindo Ferraris e Porches, ícones de uma sociedade baseada na concentração de renda. E no consumo, como sinal de distinção, na sociedade que ainda detém uma das maiores concentrações de renda do planeta.

Na praça, uma proposta próxima ao escambo. Doe o que não te serve mais. Pegue o que  não interessa aos outros. O estímulo ao desapego. Há uma curiosidade ao chegar no lugar onde uma nova cultura tenta se encontrar e instalar sementes de mudanças. A busca de ruptura com a sociedade da posse. E descobrir velhos hippies. Eles ainda existem, em algum canto da sociedade. Vendem as mesmas bijuterias. E falam sobre a esperança da sociedade desapegada do consumo pelo consumo. Há, aparentemente, uma conexão curiosa com o show, uma semana antes, do ex-beatle Paul Mc Cartney. As propostas são contemporâneas do passado. Quando a sociedade quis, nos anos 60, levar adiante o desejo de contestar, de revolucionar costumes. De estabelecer novas relações de consumo, o culto ao paz e amor.

Mas a resistência permanece forte na zona Sul, onde gente deslumbrada e apegada ao poder desfila objetos alienados, o descompromisso absoluto com o futuro. O presente como bem mais importante, independente de compromissos com outras gerações. São os poderosos que, nos anos 60, sob o cenário da Guerra Fria, sufocaram as propostas de revisão de modelos, oprimindo pessoas sob o discurso falso da libertação baseada no capital. Curiosamente, caminhamos para um novo desalinhamento de interesses. Na praça, que continua sendo frequentada pelo povo, a busca pela simplicidade. O desejo eterno do retorno à vida simples de um passado rural. No domínio do capital, a pregação grupal e inconsciente contra qualquer visão igualitária, graças ao uso de símbolos sedutores do consumo. Um novo embate ganha forma.

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